09 junho 2009

III FORUM DO LIVRE-PENSAR ESPÍRITA - GUARULHOS

+
Amigos da CEPA no Fórum de Guarulhos conclamam comunidade espírita a refletir sobre a conveniência de manter ou eliminar progressivamente os hospitais psiquiátricos espíritas.
+
O Encontro
+
Com a presença de autoridades do Ministério da Saúde, dos Secretários da Saúde de Guarulhos e de outros municípios paulistas, de psiquiatras, terapeutas e especialistas em saúde mental, espíritas de várias partes do Brasil, debateram, nos dias 5 e 6 de junho o tema “Espiritismo, Saúde Mental e Cidadania”.
Na conferência de abertura do evento, o Dr.Pedro Delgado, Coordenador-Geral do Programa de Saúde Mental do Ministério da Saúde, afirmou ser importantíssima “a contribuição dos espíritas laicos para a construção de um novo modelo de assistência no campo da saúde mental”. Para Delgado, a questão da saúde mental não pode sofrer a interferência de dogmas religiosos, mas, é fundamental o respeitar aos sentimentos de religiosidade de pacientes e familiares. Entende útil o desenvolvimento de uma ciência espiritual capaz de auxiliar na busca de equacionamentos do tema.
Depois de vários painéis, mesas-redondas e rodas-de-conversa, contando com especialistas e, também com a contribuição de familiares de pacientes e de trabalhadores ou ex-trabalhadores de hospitais psiquiátricos espíritas, em reunião plenária, os participantes do evento produziram o documento que, a seguir, divulgamos:
*****
MANIFESTO DO FORUM "SAÚDE MENTAL, ESPIRITISMO E CIDADANIA"
SAÚDE MENTAL: CUIDAR SIM, EXCLUIR NÃO!!!
+
Espíritas de todo o Brasil, reunidos nos dias 5 e 6 de junho de 2009, em Guarulhos-SP, durante o III Fórum do Livre-Pensar Espírita, que teve como tema central “Espiritismo, Saúde Mental e Cidadania”, redigiram o seguinte manifesto:
Considerando,
- o caráter progressista, humanista, laico, livre-pensador e libertário da doutrina espírita, fundada por Allan Kardec;
- que manicômio é um termo genérico utilizado para classificar hospícios, asilos, hospitais psiquiátricos e demais lugares de tratamento da doença mental que se valem do princípio do isolamento do louco da sociedade, um lugar onde os internados perdem todas as suas referências de vida e são excluídos do convívio familiar, do trabalho, do local onde moram, da cidade e que perdem, portanto, a maior garantia que a sociedade moderna pretende dar a todos, a cidadania;
- que há décadas o movimento espírita brasileiro, motivado pelo desejo de acolher os sofredores de transtornos psíquicos, fazer a caridade e propiciar o acesso às terapias espíritas, instituiu uma ampla rede de hospitais psiquiátricos espíritas;
- que ainda está sob controle dos hospitais psiquiátricos espíritas significativa quantidade de leitos psiquiátricos;
- que essas instituições, mesmo sem reproduzir as práticas de violência que caracterizam os hospitais psiquiátricos, mantêm a exclusão como prática assistencial;
- que novos modelos de cuidado em saúde mental têm sido propostos, inclusive com amparo na legislação federal, mais concernentes com os postulados éticos oriundos da doutrina espírita, possibilitando a construção de um modelo assistencial de base comunitária mais consentâneo com os postulados humanistas defendidos pelo espiritismo;
- que a Constituição Federal, alinhada à Declaração Universal de Direitos Humanos, impõe sejam resguardados os direitos fundamentais de liberdade e igualdade, presentes na Lei Natural (inscrita em nossa consciência);

Resolvem declarar que entendem devam os espíritas:
*
1)
Apoiar e participar ativamente da Reforma Psiquiátrica, que propõe transformar o modelo assistencial em saúde mental e construir um novo estatuto social para o louco: o de cidadão como todos os outros;
*
2) Apoiar a substituição progressiva dos manicômios e demais práticas de internamento que resultem na exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais;
*
3) Apoiar a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária;
*
4) Apoiar a lei 10.216/2001, que propõe uma ampla mudança do atendimento público em Saúde Mental, garantindo o acesso da população aos serviços e o respeito a seus direitos e liberdade, o que significa mudar o modelo de tratamento: no lugar do isolamento, o convívio com a família e com a comunidade;
*
5) Exigir das autoridades públicas que cumpram sua responsabilidade e implementem, objetivamente, a rede de saúde mental de base comunitária (CAPS, Residências Terapêuticas, Lares Abrigados, ações para redução de danos, etc) e leitos de curta permanência em hospitais gerais qualificados para integrar a referida rede;
*
6) Conclamar a comunidade espírita para uma reflexão séria e responsável sobre a conveniência de manter ou eliminar progressivamente os hospitais psiquiátricos espíritas. Por mais respeitáveis que sejam os objetivos dessas instituições, elas professam um modelo historicamente ultrapassado e eticamente indefensável. Essas instituições, que contam com um enorme patrimônio e muitos colaboradores, não podem e não devem simplesmente encerrar suas atividades. Sugere-se produzir uma redefinição do perfil das instituições, voltando suas atividades para o cuidado aos idosos, à população em situação de vulnerabilidade social, desenvolvendo, em particular, atividades educacionais, culturais e profissionalizantes;
*
7)
Adotar o trabalho efetuado em instituições espíritas (emissão energética à distância, passes, orientação espiritual a encarnados e desencarnados, desobsessão, etc). Essas práticas claramente se inscrevem entre as diferentes modalidades de cuidado em saúde mental de base comunitária e têm uma contribuição inimaginável na diminuição e no controle da ocorrência de casos graves de transtornos psiquiátricos;
*
8) Reconhecer que o espiritismo, ao tratar da questão da saúde mental sem a interferência de dogmas religiosos, mas respeitando os sentimentos de religiosidade de cada um (paciente, familiares e profissionais de saúde) pode contribuir eficazmente com as demais ciências e correntes do pensamento, alargando a compreensão sobre a natureza humana, sua subjetividade, seus sofrimentos e transtornos psíquicos, a partir da abordagem de sua dimensão espiritual;
*
9) Conclamar a comunidade espírita a cerrar fileiras junto ao Conselho Nacional de Saúde e em outros espaços de debate e atuação públicos, com as posições defendidas pela OMS, OPAS, parlamentares, gestores públicos das três esferas de governo, representantes do Ministério Público, instituições universitárias, ONG e outros setores progressistas de nossa sociedade que defendem a REFORMA PSIQUIÁTRICA E UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS!
Guarulhos, 6 de junho de 2009.

III FORUM DO LIVRE-PENSAR EPÍRITA - Guarulhos

***
COORDENADOR DO MINISTÉRIO DA SAÚDE DESTACA A POSIÇÃO LAICA ESPÍRITA COMO FUNDAMENTAL PARA O DEBATE SOBRE SAÙDE MENTAL
*
Na abertura do III Fórum do Livre Pensar Espírita, realizado em Guarulhos (SP), de 5 a 7 de junho, o Dr. Pedro Delgado (foto), Coordenador-Geral do Programa de Saúde Mental do Ministério da Saúde (Governo Federal) afirmou ser importantíssima a contribuição dos espíritas laicos para a construção de um novo modelo de assistência no campo da saúde mental.
Delgado pontuou que tratar a questão da saúde mental sem a interferência de dogmas religiosos, mas respeitando os sentimentos de religiosidade de cada um (paciente, familiar, profissional, Sociedade) é importante porque a contribuição efetiva de uma ciência espiritual pode auxiliar no melhor equacionamento da questão.
O contributo maior está na “Dimensão Espiritual do Sofrimento”, que a posição espírita pode descortinar, principalmente por não invocar questões de fé. O novo paradigma que está sendo construído, assim, coloca o doente e seus familiares não como “vítimas” da doença, mas atores, protagonistas e co-terapeutas, tomando a positividade da loucura (calcada na experiência de vida, a vivência e o aprendizado, que constituem a matriz ética da questão), e não a simples negatividade que a dor possa encampar.
A feliz iniciativa da CEPAmigos em promover o Fórum e os compromissos que ficarão como conseqüência do evento, principalmente a “Carta” assinada no encerramento do mesmo, podem ser balizas importantes para inserir, definitivamente, o movimento espírita, consciente e participativo, neste cenário.
Reportagem de Marcelo Henrique, especial para CEPA BRASIL.

CONSELHO EXECUTIVO DA CEPA

***
Na última reunião, realizada em Buenos Aires, dia 23 de maio de 2009, o Conselho Executivo da CEPA examinou uma proposta do Sr.Jaci Regis para que seu trabalho “Modelo Conceitual Kardecista – Reescrevendo a Doutrina Espírita” seja tomado como base de um novo posicionamento doutrinário e que seja criada uma comissão especial com o fim de estudar seu trabalho e apresentá-lo no próximo Congresso a realizar-se na cidade de Santos, no ano de 2012.
Após profunda avaliação do trabalho intelectual do Sr. Regis, de longa e frutífera trajetória no Movimento Espírita, o Conselho Executivo, por unanimidade, decidiu pelo não acolhimento da proposta oferecida, atento às seguintes considerações:

1. Fiel à sua Historia Institucional, a CEPA, que tem como base de seu pensamento a Doutrina Espírita sistematizada por Allan Kardec, entende que esta se encontra em contínuo processo de atualização e seguirá acolhendo ideias, interpretações e pontos de vista devidamente fundamentados, desde que expostos e ampla e minuciosamente debatidos nos eventos que promove.
*
2. Dentro desta linha de ação, o XXI Congresso Espírita Pan-Americano, a realizar-se na cidade de Santos, no ano de 2012, cumprirá a tradição da CEPA de recebe e debater as mais diversas contribuições, sempre que sejam apresentadas por pessoas regularmente inscritas no evento e seus trabalhos sejam compatíveis com a temática oficial do Congresso, que será definida por este Conselho.
*
3. Apreciamos e valorizamos o esforço intelectual do autor e coincidimos em muitas de suas ideias, mas entendemos que a Atualização do Espiritismo se está dando através de una construção coletiva que se plasma nos Congressos e demais eventos que realizamos, além de outros muitos aportes. Nesse sentido, consideramos o “Modelo Conceitual” proposto como excelente trabalho individual de investigação e atualização da Doutrina Espírita, mas em nenhum de nós existe a convicção de que deva ser tomada como base para um Novo Posicionamento Doutrinário da CEPA.
*
4. Com estes fundamentos, o Conselho Executivo entende que seria improcedente, neste momento, constituir uma comissão especial para analisar a tese de um autor em particular, como o “Modelo Conceitual Kardecista” de Jaci Regis. Tampouco tem-se a intenção de adotar o modelo proposto como eixo central do XXI Congresso Espírita Pan-Americano, embora o mesmo possa perfeitamente ser avaliado dentro da Comissão Temática do Congresso, a fim de que sejam aproveitadas suas contribuições.
*
Apesar da resolução tomada de recusar a proposta, queremos fazer menção de que esta é uma questão Institucional e não pessoal e reiteramos a nosso querido Jaci a alta consideração que os integrantes deste Conselho mantêm por ele e o ICKS, por sua contribuição aos espíritas do Brasil e América, mantendo-se fiel a seus princípios de respeito ao livre pensamento, ao diálogo e ao progresso, no desejo de que o caminho que continuamos percorrendo juntos mantenha a senda de afeto e valoração que até hoje teve.

Conselho Executivo da CEPA